Na Porta do Céu

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Hoje é um dia negro para o mundo da música. Com a morte de John Lord (vitimado por aquela maldita doença que começa com "c"), o universo do rock perde um dos tecladistas mais emblemáticos de sua constelação.
O instrumental do Deep Purple não alcançaria o patamar de excelência sem a participação dos teclados inspirados, "cheios" e temáticos de Lord (um dos criadores do conjunto). Até é possível imaginar os grandes clássicos da banda sem a presença da massa sonora do pianista (afinal, o grande destaque da banda sempre será  o portador da guitarra  Fender Stratocaster - Ritchie Blackmore). Mas experimente tirar o canal  do  som  de  teclado do denso instrumental  criado pelo  grupo. Isso resultará em  uma massa sonora sem liga (faltando aquela profundidade "tridimensional"  dos teclados Moog e RMI, que John Lord sabia empregar de maneira única). Sem dúvida, o  trabalho "orquestral" do  tecladista sempre enriqueceu, encorpou e dramatizou as composições da banda (com um toque sinfônico puxado para o rock/blues).



John Lord foi um dos  músicos pioneiros em misturar com eficiência e elegância música clássica com rock. Uma das  marcas desta bela interação está presente no álbum "Concert for Group and Orchestra" (1969) - uma grande novidade para a época. O último trabalho do músico (ainda inédito) parece retomar este legado - "Jon Lord Concerto for  Group and Orchestra".
Com a ajuda de Lord, a amálgama de diferentes estilos musicais foi incorporada com maestria nas composições do  Deep Purple ("Pictures of Home", "Strange Kind of Woman", "Burn", "Stormbringer", "Bird Has Flown" são  alguns dos vários exemplos em  que  beleza e engenhosidade  se integram harmonicamente). Assim, em plena virada da década de 1960 para a de 1970, o som do Purple foi um dos grandes destaques da época, ao aliar com perfeição a sofisticação da música clássica com o vigor do rock).






De 1969-1975, o Deep Purple lançou 11 discos de estúdio (todos com a participação de John Lord), forjando o seu nome no panteão do rock, através de clássicos imortais. Após essa fase áurea, a banda só retorna em 1984, com o excelente "Perfect Strangers" - com várias músicas inspiradas, que fazem frente com o que de melhor o Purple havia composto na primeira fase da carreira. Então, depois do sucesso do disco, o conjunto toma impulso, lançando mais  7 álbuns de estúdio (com Lord participando de quase todos - Abandon (1998) é o último da parceria do tecladista com a banda).
Além do Deep Purple, Lord participou como convidado em trabalhos de vários músicos/bandas (George Harrison, David Gilmour, Nazareth, Cozy Powell etc.). Ainda, desenvolveu uma sólida carreira solo fortemente influenciada pela música clássica (com vários álbuns lançados). Sua passagem pelo Whitesnake é também bem significativa, com a banda lançando ótimos discos que trazem uma mistura certeira de blues com rock materializada em clássicos definitivos ("Love ain't no Stranger, "Guilty of Love", Here I Go again" (com a inesquecível abertura com órgão), "Crying in the Rain" etc.). Inclusive, a capa do disco solo do tecladista "Sarabande" (1975) inspirou o nome da banda.






O LP "Perfect Strangers" contém uma das músicas mais bacanas da carreira do Purple. Um épico rock arena com os teclados de Lord amplificando o efeito vibrante deste petardo hard rock.
O videoclip é todo  em dores ferruginosas (com um clima bem  apocalíptico), remetendo ao deserto desolado de Mad Max.







Ficarão como clarões na memória, as inesquecíveis passagens do Deep Purple pelo Brasil, sobretudo o primeiro show que o grupo fez no país (cuja data já me esqueci), mas lembro-me de alguns fatos: foi no Ginásio do Ibirapuera, a banda atrasou para entrar no palco (devido a problemas na alfândega), executou com entusiasmo os grandes clássicos, e um integrante não parava de se mexer enquanto tocava de maneira incendiária o seu arsenal de teclados. Bons tempos aqueles.







    


//PÚRPUROS PROFUNDOS//
/Imagem(1)/ Capa do LP "Stormbringer". Uma parceria imbatível de Hughes com Coverdale (Site - Discogs).
/Imagem(2)/ Contracapa do disco "Machine Head" (1972) - um clássico definitivo do rock. Tem a bela "Pictures of Home", aquela do cassino que pegou fogo, a outra da estrela da estrada... (Site - Discogs).
/Imagem(3)/ Capa Alternativa do LP "Perfect Strangers" (1984) - o retorno em grande estilo do Purple, que gerou vários clássicos - como o hino "Knocking at Your back Door" (Site - Discogs).
/Imagem(4)/ Cena do distópico videoclip "Knocking at Your back Door" - uma verdadeira arqueologia musical em um mundo cataclismático, cujos animais sumiram do mapa, com a exceção de uma arara (Site: You Tube).
/Imagem(5)/ Capa do disco "Who Do You Think We Are" (1973) - que traz o classicão "Woman from Tokyo" (Site: All CD Covers).
/Imagem(6)/ Capa do disco "Purpendicular" (1996) - um bom lançamento da carreira da banda, dessa vez, com o guitarrista Steve Morse em performance criativa e inspirada (substituindo Ritchie Blackmore). Momentos inesquecíveis: a emocionante balada "Sometimes I Fell like Screaming" e "Loosen My Strings" (com uma levada bem bacana) (Site: Discogs).
/Tecla(1)/ Wikipédia.
/Tecla(2)/ Site da banda.