Estrela do Código Morse

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O Código Morse é um sistema de representação de letras, números e sinais de pontuação através de um sinal codificado enviado,  que  pode  ser  transmitido  de várias formas (ondas eletromagnéticas, pulsos elétricos, sinais visuais etc) em tons curtos e longos (que através de uma sequência de pontos, traços e espaços representam letras, números e sinais de pontuação). É um padrão para a codificação da informação. As mensagens-morse são normalmente transmitidas por uma ferramenta de transmissão manual, como o telégrafo (que registra os códigos em fitas magnéticas e ponteiros de agulha).
O objetivo do uso do Código Morse é o de passar mensagens codificadas, cifradas e  secretas (muitas vezes)  para que o único destino seja o decodificador-alvo que possa destrinchar o sistema de representação (em casos de guerra,  este sistema diminuía em muito o risco de que  agentes inimigos pudessem "quebrar" o código, decifrando a mensagem criptada). Também foi utilizado massivamente na área de comunicação marítima. Para se valer do uso do Código Morse, não é necessário que se tenha o aparelho. Um caso emblemático de uso desaparelhado foi o de um soldado americano capturado por uma milícia vietnamita, que apareceu na tv e piscou em Código Morse a palavra "tortura".
Este Código pode ser usado com serventia por pessoas que tenham dificuldades de comunicação (através de sistema operacional de computador regido pelo Código Morse e  também via celulares e relógios digitais compatíveis com o padrão Morse).








No terreno musical, uma banda de Quebec adotou o nome "Morse Code Transmission" e lançou o seu primeiro trabalho em 1971 (após tocar covers de outros grupos em bares e ser banda de apoio de músicos pop canadenses) com o mesmo nome. Um disco de músicas curtas, algumas baladas em estilo folk, cantado em inglês e seguindo um direcionamento rocker-psicodélico (que remete a meados da década de 1960) com riffs bem marcantes. Sua música lembra a de bandas como "The Beatles" (nas baladas), Grand Funk Railroad e Uriah Heep (nos momentos mais pesados).





O segundo disco, "Morse Code Transmission II" (1972), guarda semelhanças com o antecessor, mas mostra a evolução da banda em termos sonoros em um álbum duplo, com músicas mais longas e buriladas, com arranjos mais sofisticados, além  de um teor mais progressivo. Destaque para os teclados e guitarras bem executados e enérgicos. Com relação às faixas, convém mencionar as excelentes "Soul Odyssey" (um épico de pouco mais de três minutos e meio) / "Graveyard of Man" (alternando momentos de balada com outros mais rockeiros) / "Liberty, Freedom, Man" (com um clima woodstockiano) / "Sky Ride" (instrumental  bem inspirado, que parece abertura de seriado de ficção-científica da década de 1970).







Durante  três  anos  após o  lançamento do segundo disco,   a  banda  passa  a  ser influenciada pelo rock progressivo britânico e então começa a compor novo material calcado neste estilo. Em 1974,  faz inúmeros shows no Canadá e chama a atenção da gravadora Capitol, que os contrata.
"Les Marche de Hommes" (1975) é o resultado desta união, que traz um som diferenciado em relação ao anterior. Neste disco, a começar pelas letras, que passam a ser em francês, o nome da banda é abreviado para Morse Code, a duração das faixas aumenta e o proto-progressivo do segundo disco  se  transforma em  um  ótimo e complexo progressivo sinfônico (que combina com a  impactante capa do LP).  As faixas são criativas, combinando eficientemente o som progressivo com elementos folk.  Já as letras em francês dão um toque mais diferenciado e de bom gosto à obra. As músicas instrumentais também fazem bonito (com temas inspirados). 
Os instrumentos são bem encaixados e dialogam de maneira criativa (com destaque para os teclados, guitarra e flauta). Este trabalho teve elogios da crítica e reconhecimento do público que os outros dois trabalhos anteriores não obtiveram.






É no álbum "Procréation" de 1976, que a banda atinge o ápice do rock progressivo. Mais uma vez, as faixas são bem elaboradas e inspiradas como as do álbum anterior. Como toda boa obra progressiva,  alterna   músicas cantadas com outras instrumentais  guiadas  por um  marcante trabalho de teclados, guitarras e flauta. Há também espaço para o bom-humor e um jogo lúdico com palavras na faixa "Des Hauts et des Has!" Mas o grande destaque é para a suite conceitual progressiva "Procréation" (dividida em três movimentos, que totalizam 25 minutos de um intricado épico  progressivo marcado por temas grandiosos e  por constantes e complexas mudanças de ritmo. O conceito trata do ciclo da procriação, contando como os bebês se tornam pais). Esta obra solidificou a carreira da banda internacionalmente.







O último da Trilogia Progressiva.


Para gravar "Je Suis les Temps" (1977), a gravadora levou o grupo para Londres, que contou com o talento do engenheiro de som Eddie Offord (Yes, Emerson Lake and Palmer). Naquele momento, a banda acreditou na possibilidade de um grande sucesso internacional. Porém, o péssimo momento pelo qual o progressivo passava na época - com a invasão do punk e o auge da disco music - colocou areia no maquinário do Morse Code. Após o lançamento, o contrato foi rompido com a gravadora. "Je Suis les Temps" segue o estilo progressivo dos discos anteriores, mas de uma maneira mais esmaecida e contida (que guarda semelhanças com a capa bem sutil e neutra). O foco é dado para as canções em formato de balada, que ganham uma feição mais pop, mas com a qualidade musical mantida. As letras continuam em francês. Mas dessa vez,  o disco não é conceitual e as músicas têm a sua duração diminuida, diferentemente de Procréation. 
Uma obra bem tocada (tendo seus bons momentos) que fecha de maneira honrosa  a  sólida trilogia progressiva da banda, que começou com o ótimo "Les Marches des Hommes".






                    
            A  rock arena-antêmica "Super Star" deveria estar neste disco!



Em 1983, após longos anos, a banda retorna com "Code Breaker", um álbum com direcionamento AOR-ROCK-POP, em um estilo mais próximo de bandas como Asia, Styx e Journey. Também há uma alteração no idioma, que volta a ser o inglês. O objetivo era surfar a onda musical de um rock pop mais vigoroso voltado para as rádios, que oferecia também reminiscências de um som progressivo (só que desta vez, em forma de revival e mesclado com um som mais comercial). Entretanto, o sinal do Morse Code foi "quebrado" e não decoficado pelo público em forma de reconhecimento e  altas vendagens e pela crítica (que detonou o trabalho). Resultado: novamente a banda encerra as atividades.   
Por incrível que pareça, a empolgante faixa "Super Star" - que foi gravada para integrar este disco - foi descartada. Sem dúvida, uma música excelente e bem próxima dos momentos mais felizes de bandas como Asia e Styx. Tudo nesta música estilo rock arena é perfeito: o andamento cadenciado, o refrão "paradinha" bem melodioso (com coro de vocais), o solo de guitarra  bem viajante e melódico e no final, um solo de teclado "cheio", que lembra bastante alguns solos de Geoff Downes, em belas músicas do Asia. Foi até produzido um videoclip desta música órfã. Ao ver o clip, não leve em conta o visual dos músicos (que está bem datado). O vocalista-guitarrista parece que, após o banho, pegou um hobby azul do camarim do Abba (preste bem atenção na influência dos suecos nesta música) e correu esbaforido para a gravação. Já o baterista aparece com um visual de pasteleiro do bairro da Liberdade e por aí vai. O que vale é o talento dos músicos e o bom gosto musical. "Super Star" deveria ser a música de abertura de "Code Breaker" e também o carro-chefe do disco.
Ouça e confira: http://www.youtube.com/watch?v=7PgQrqIa9EQ 






                  
  A bela balada "Les Fils du Grand Dragon" é o carro-chefe deste disco.


Depois de décadas de  experiências progressivas moldadas em vários subgêneros musicais (Rock Sinfônico, Hard Arena, Folk Rock, AOR etc) e um renome conquistado com os trabalhos progressivos da década de 1970, eis que o Morse Code  ressurge em 1995, com um novo album - "...D'un Autre Monde" - inteiramente cantado em francês e com alguns músicos novos. O objetivo do lançamento foi modernizar a música que tocavam nos anos 70, com ênfase em baladas pop consistentes que remetessem a um som mais AOR (com ecos distantes do progressivo).  O destaque vai para a faixa "Le Fils du Grand Dragon", bela balada (com toques progressivos) que teve uma execução razoável nas rádios e um videoclip formatado na mais pura atmosfera tolkieniana. Após o lançamento, a idéia de uma nova turnê foi adiada e a banda novamente desligou os seus sinais, deixando marcado o seu "código" como uma das mais importantes bandas canadenses de progressivo da cena de Quebec (ao lado de Harmonium e Pollen).







COORDENADAS
-Fontes-
-Prog Archives: http://www.progarchives.com/
-Wikipedia.

-Para escutar músicas em stream das diversas fases da banda, acesse este link do site especializado "Prog Archives": www.progarchives.com/artist.asp?id=1112

-Para assitir ao videoclip da balada "Le Fils du Grand Dragon", clique aqui: http://www.youtube.com/watch?v=7y7OgsHTShk 

-Formação da banda na fase da Trilogia Progressiva:
/Christian Simard/ Teclados e vocais. / Principal compositor.
/Michel Vallée/ Baixo e vocais.
/Daniel Lemay/ Guitarras, flauta e vocais.
/Raymond Roy/ Bateria e percussão.