Autômatos

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Uma sociedade distópica em que os seres humanos se transformaram em meros objetos serviçais. Um mundo descolorido onde a indiferença e a melancolia silenciosas imperam dentro de uma surreal resignação humana a uma exploração que coisifica relacionamentos.








Este mundo acinzentado e brutalizado é apresentado através do alegórico  desenho animado "El Empleo" (2008), com direção do designer e ilustrador argentino Santiago 'Bou' Grasso (responsável pelo estúdio de animação opusBOU).
Nesta animação (curta-metragem de  6 minutos e  25 segundos), os seres humanos são meras peças amorfas dentro de um sistema desindividualizado que os escraviza, com a plena dominação da sociedade através de normas rígidas, indignas e impessoais.






   

Este sistema de exploração do trabalho reflete grande parte do funcionamento das grandes corporações atuais: a procura pelo  lucro  acima de tudo (sem maiores dilemas morais) e  o  tratamento exploratório direcionado aos funcionários (vide os casos de empresas patológicas que demitem empregados sem justificativas  decentes ou então as  que os mantém literalmente/simbolicamente em um regime de escravidão). O lema passa então a ser: a corporação acima de tudo, custe o que custar. Dentro desta premisssa, o indivíduo é transformado em um elemento dentro de uma  lógica supostamentamente virtuosa  que vai moendo sua liberdade e criatividade, via condicionamento a regras de trabalho que visam única e exclusivamente abastecer uma máquina lucrativa.








Assim, o mote deste desenho animado representa pessoas subordinadas e dominadas por um mecanismo de funcionamento econômico/social que as torna indiferentes, embotadas e  passivas frente a imposições do capital  [refletindo de maneira simbólica o estudo "A Metrópole e a Vida Espiritual" (1903) do sociólogo alemão Georg Simmel]. 
Com toda esta sujeição em nome do pleno funcionamento do capitalismo, as pessoas deixam de ser cidadões críticos, criadores e preocupados com o entorno (relação saudável e de respeito para com as outras pessoas/natureza). 







Coisificados, massificados e  precificados conforme seu desempenho corporativo, a realidade  dos  trabalhadores em  inúmeras empresas ao redor do mundo reflete  condições de trabalho rígidas, desumanizadas e desrespeitosas, que  levam vários indivíduos a adoecer e  a  ter  problemas psicológicos que não são nada menos que a somatização da vida massacrante do homem-sombra encarcerado nas modernas senzalas de um sistema econômico que está levando a humanidade para o fundo do poço.









Na animação premiada em vários festivais de cinema, repare nas seguintes cenas (que representam simbolicamente a essência do atual sistema de produção): a chegada do indivíduo na corporação, a subida do elevador e a chocante cena final: /El Empleo (Curta de Animação)/









//COORDENADAS//
/opusBOU (Site do Estúdio de Animação de Santiago 'Bou' Grasso)/    
/Wikipédia/