Alienação, traumas, violência e delírios transformados em imagens bizarras, assimétricas e surreais. É está a atmosfera presente no trabalho do ilustrador britânico Gerald Scarfe, com destaque para a arte que ele criou para o trabalho "The Wall" da banda Pink Floyd. Desenhos satíricos e deformados carregados de sátiras e críticas políticas e sociais são a tônica do trabalho do artista ("The Sunday Times" e "The New Yorker" são alguns dos jornais/revistas para os quais desenhou).
.jpg)
Lançado em 1979, o disco duplo "The Wall" foi ilustrado por Scarfe (capa, encarte interno e selos dos vinis), e complementou com precisão a história opressiva e de crítica social criada pelo vocalista/baixista Roger Waters sobre um rock star perturbado chamado Pink (uma metáfora para a consumista e alienada sociedade moderna). Além de ilustrar o álbum, Gerard Scarfe também contribuiu com seus desenhos para outras mídias da história de "The Wall": o filme de Alan Parker de 1982 (com animações) e megashows (com figurinos, placas, desenhos projetados em muros etc.). Dos grandes concertos, a atual turnê de "The Wall Live" de Roger Waters é uma das mais completas e bem produzidas (com novos cenários, imagens e desenhos), assemelhando-se em grandiosidade com as turnês: "Is There Anybody Out There - The Wall Live (1980-1981)" do Pink Floyd e "The Wall - Live in Berlin" (1990) (com Roger Waters em carreira solo acompanhado de vários músicos convidados).
.jpg)
A capa acima de Gerard Scarfe apresenta uma influência da arte moderna para o disco conceitual lançado pelo conjunto Pink Floyd. O tipo de letra usado ("informal de caderno") aparece também nas projeções da atual tour que passará pela cidade de São Paulo nos próximos dias 1 e 3, no estádio do Morumbi.
A capa dupla interna do álbum "The Wall" mostra os personagens alucinados da história ilustrados por Gerard Scarf.
A obra "The Wall" traz características autobiográficas do idealizador do projeto - Roger Waters. Tal como o personagem Pink, Waters perdeu o pai em uma batalha na cidade de Anzo (Itália), durante a Segunda Guerra Mundial (a homenagem a ele aparece logo no começo do show com a música "The Thin Ice"). Este trauma fica fortemente marcado na mente do rockeiro Pink [o show exterioriza tal sentimento com impactantes animações sobre bombardeios nazistas na Inglaterra (durante a música "Goodbye Blue Sky")].
O desenho acima de Gerard Scarfe mostra um bombardeio nazista em terras inglesas. Artilharias pesadas para a infância de um menino.
A educação repressora em colégio britânico pela qual passa Pink em sua infância contribui para aumentar seus traumas e feridas (pela visão do garoto o colégio mais parece como um campo de concentração, cujos professores são verdadeiros ditadores tresloucados e moedores de almas e carnes humanas). A atitude sádica e cruel dos educadores frente aos alunos é retratada na canção "The Happiest Days of Our Lives".
O boneco do professor-ditador durante a execução de "Another Brick in the Wall - Parte 2" - um hino contra a violência e a opressão.
O boneco representa o estado mental frágil e perturbado do personagem Pink, um reflexo de seus pensamentos obcecados pelas imagens de terror da Segunda Grande Guerra Mundial e de outros traumas de infância.
Trazendo mais problemas para o comportamento do garoto, a mãe superprotetora compromete a individualidade dele, ao controlar todos os passos de seu filho. Tal atitude aparece na música "Mother".
Já adulto e agora um atormentado astro do rock, Pink passa por uma grande crise: o casamento com a sua mulher se deteriora, a ponto de causar a separação do casal (algo que ocorreu com Waters). O relacionamento conturbado e descolorido é mostrado na faixa "Empty Spaces" (no show, a animação com flores se transformando em monstros e se digladiando entre si representa simbolicamente o teor da convivência do casal). O ápice da falta de comprometimento se dá com uma traição de Pink em "Young Lust".
Este desenho (acima) de Scarfe se chama "A Aparição da Sombra da Esposa". Na história este sentimento se materializa da seguinte forma: Pink destrói todo o apartamento, culminando com o fim do relacionando (a esposa o abandona). A dor da separação é cantada na música "Don't Leave Me Now". Sozinho e cada vez mais insano, o astro do rock constroi um muro de isolamento em torno de si, afastando-se da realidade para mergulhar em um mundo fantasioso e esquizofrênico. O auge da loucura e do fechamento para a sociedade se dá em "Goodbye Cruel World" (no show, o último tijolo do muro é preenchido, e então, a banda não é mais vista pela plateia). A balada "Comfortably Numb" revela o estado de letargia e vício em que se encontra o músico.

O enclausuramento, abastecido por drogas, eclode em uma série de surtos psicóticos. Um dos principais revela Pink com a plena convicção de que é um verdadeiro ditador. Então, acaba por revelar o desejo de executar seu plano de perseguir minorias étnicas na arrasa-quarteirão "Run like Hell" e na balada-marcha "Waiting for the Worms".
A perseguição se dá em Londres com a marcha dos soldados-martelo (no show, aparecem como imagens contundentes projetadas durante a execução de "Waiting for the Worms").
Exaurido da sua existência doente e insustentável, Pink tem um momento de iluminação em que deseja abandonar seus vícios, preconceitos e o decorrente isolamento, e assim, alcançar uma nova vida que não o arruine mais (esta reviravolta está na canção "Stop"). Mas antes, é promovido um julgamento [presente na música "The Trial" (no show, animações de Scarfe são projetadas no muro durante a execução desta opereta)], cujo tribunal é a sua mente. Todos os atos de seu passado passam por análise de uma figura insólita: o juiz-montanha da ilustração acima.
O veredicto do júri na arena sobre o caso de Pink: o indivíduo deve quebrar o muro e sair da "prisão".
Na música "Outside the Wall" temos a resolução do épico: a destruição do muro e a abertura de uma nova perspectiva.
"The Wall" é uma obra que passa pelo teste do tempo: não ficou datada, ao enfocar com criatividade, beleza e singularidade temas atemporais e essenciais da humanidade.
A seguir, algumas músicas do show:
/Goodbye Blue Sky - Estádio Nacional - Santiago - Chile (2012)/
/Comfortably Numb - Estádio Nacional - Santiago - Chile (2012)/
/Run like Hell - Brisbane - Austrália (2012)/
/Waiting for the Worms - Auckland - Nova Zelândia (2012)/
/The Trial - Estádio Nacional - Santiago - Chile (2012)/
//COORDENADAS//
/Imagem(1)/ "A Paisagem Alienígena" - Desenho de Gerard Scarfe.
/Imagem(2)/ "Marcha dos Martelos" - Pôster de Scarfe para "The Wall".
/Imagem(3)/ Pôster de Gerard Scarfe para o filme "The Wall" (Fonte - Wikipédia).
/Imagem(4)/ Capa do vinil "The Wall" feita por Scarfe (Fonte - Discogs).
/Imagem(5)/ Capa dupla do disco "The Wall", com ilustrações dos personagens da história feitas por Gerard Scarfe (Fonte - Discogs).
/Imagem(6)/ "Fortificação de Anzio" - Pintura retirada do site do artista.
/Imagem(7)/ "O Mergulho do Stuker" - Desenho do site do ilustrador.
/Imagem(8)/ "O Professor" - Ilustração do site de Scarfe.
/Imagem(9)/ "Boneco do Professor" em ação no show "The Wall Live", de Roger Waters.
/Imagem(10)/ "Pink Acuado" - Foto do show que apresenta o personagem como uma criatura traumatizada e fragilizada pelo terror da guerra e pela educação repressora.
/Imagem(11)/ "Mãe" - Desenho do site de Gerard Scarfe.
/Imagem(12)/ "A Esposa" - Ilustração retirada do site do artista.
/Imagem(13)/ "A Aparição da Sombra da Esposa" - Desenho do site de Scarfe.
/Imagem(14)/ O Muro com a banda atrás dele, durante o show "The Wall Live".
/Imagem(15)/ "Os Martelos Cruzados no Quadro Circular" - Pôster extraído do site de Gerard Scarfe.
/Imagem(16)/ A Marcha dos Martelos no Show "The Wall Live" (Fonte - Site: Focka).
/Imagem(17)/ "O Muro de Martelos e o Juiz" - Ilustração do site de Scarfe.
/Imagem(18)/ "Juiz na Arena" - Ilustração do site do artista.
/Imagem(19)/ Palco de "The Wall Live", com o muro sendo montado.
/Imagem(20)/ Palco no final do show com o muro destruído.
/Imagem(21)/ Pôster para o show "The Wall Live" de Roger Waters.
//FONTE//
/Wikipédia/