Com Força e Inspiração

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Somente o tempo diz se algumas obras/composições musicais se tornam datadas ou não.
No caso da banda "Asia", as composições da década de 1980 soam atuais e vigorosas quando tocadas ao vivo.
E uma ótima ocasião para conferir a qualidade musical do grupo aconteceu no último dia 22 de maio, na cidade de São Paulo. 
Apesar de a casa de espetáculos não estar lotada,  um considerável público fiel compareceu em uma noite fria e chuvosa de domingo.





A banda aterrissou na capital paulistana para promover o seu mais recente trabalho de estúdio - "Omega" (lançado em 2010).
O repertório foi diferente do show que fizeram no Brasil em 23 de março de 2007. Ao invés de tocarem um disco na íntegra (em 2007, tocaram o primeiro disco de estúdio - "Asia") e executarem versões de músicas de bandas (Yes, Emerson Lake and PalmerKing Crimson, The Buggles), das quais os  integrantes já fizeram parte, calcaram o set list somente nas músicas dos discos do "Asia" (os 4 de estúdio lançados pela formação original).




  


O talento dos músicos impressiona  na execução das músicas (décadas de estrada contribuíram para o aperfeiçoamento dos integrantes em seus instrumentos e a um entrosamento espontâneo e criativo entre os membros da banda).

Outro fator de destaque é a empolgação e energia com que os músicos tocam as músicas.
"Piloto-automático" zerado e "fome" e prazer de tocar ao vivo acionados com empolgação.




    

Steve Howe (guitarra, vilão) afirmou em uma entrevista, em 2007 (presente no DVD ao vivo - Fantasia: Live in Tokyo) que a banda não deveria ter ficado tanto tempo sem ter lançado material novo [hiato de 18 anos entre os discos "Then and Now" (coletânea com 4 faixas inéditas lançada em 1990) e o penúltimo "Phoenix" (2008)]. 

Assim, ele afirma que com o álbum "Phoenix" ocorreu uma retomada da carreira do conjunto nos moldes das composições dos  discos da década de 1980. Também mencionou que a banda tem o objetivo de manter uma regularidade no lançamento de novas obras.







E o guitarrista tem razão, pois tanto "Phoenix" quanto o sucessor "Omega" mantêm o nível de qualidade e virtuosismo das composições da trilogia inicial ["Asia" (1982), "Alpha" (1983) e "Astra" (1985)]. A única diferença é de ordem semântica: os títulos dos últimos trabalhos não começam com a letra A.








E por falar nos últimos discos da banda, há composições que se assemelham com as melhores músicas dos três primeiros trabalhos. Tal fato é constado, por exemplo, na execução ao vivo  de "Holy War" [denso  épico progressivo com interessantes mudanças de andamento (do disco "Omega")], "End of the World" (mais um inspirado  épico sinfônico, alternando momentos de balada com outros mais bombásticos - a  faixa preferida de John Wetton  do "Omega") e "I Believe" (um pop progressivo criativo e empolgante do mesmo álbum).
Do disco "Phoenix", as músicas tocadas ao vivo adquiriram uma feição mais vívida e vibrante que as versões em estúdio (que já são bem interessantes). São exemplos: "Never again" (estilo rock arena com refrão contagiante) e a  bela e densa balada progressiva "An Extraordinary Life" (com sua mensagem "carpe diem"). 








Com relação às músicas mais antigas, o show apresenta um desfile inesquecível de clássicos da banda, alguns com  versões distintas das dos discos, como a  balada "Don't Cry" (Alpha) em uma emocionante versão acústica e "Open Your Eyes" (Alpha) [em uma vigorosa versão estendida [começando acústica e depois se tornando mais rocker (com a entrada de todos os instrumentos)].

As canções que não podem faltar de jeito nenhum em um show do grupo foram executadas com inspiração e desenvoltura: "Only Time Will Tell" (bem parecida com a versão de estúdio) e "Heat of the Moment" (uma das mais animadas do show, em uma longa versão com efusiva participação do público). 

Vale destacar que a voz de John Wetton permanece intacta (com o belo timbre de sempre), o baixo de Wetton continua com a mesma marcação firme dos bons tempos e a tecladeira "cheia" de Geoff Downes é indispensável para enriquecer de maneira criativa o  rock elaborado da banda. Com relação à guitarra, o tempo só fez aumentar o virtuosismo de Steve Howe, apresentando solos que são uma espécie de música (com temas bem desenvolvidos) dentro das canções do "Asia". A sua parte solo é uma aula de classicismo musical, como em "Second Initial".



  

   
Carl Palmer é um mestre da batera, com uma levada precisa que preenche com criatividade todos as "lacunas musicais". O seu solo malabarístico e técnico, no meio da música "The Heat Goes on" (Asia), remete aos gloriosos tempos de "Emerson, Lake and Palmer" (com a famosa batida no grande prato que fica atrás do kit de bateria).

Em fim, a banda "Asia" proporciona ao vivo um espetáculo em todos os sentidos.



// SET LIST//
/Wildest Dream (Asia)/ Perfeita para abrir o show com sua levada apoteótica na boa tradição de um rock progressivo marcial.
/Only Time Will Tell  (Asia)/ O grande clássico da banda. Até hoje soa atual e moderna.
/I Believe (Omega)/ O pique de "Only Time Will Tell" é mantido com esta bela e pulsante balada  rockeira.
/Never again (Phoenix)/ A peteca não cai, com a execução dessa enérgica música, que  apresenta semelhanças com "Only Time Will Tell". Impossível não se entusiasmar com a levada cativante da canção. É a faixa que dá pontapé inicial  ao álbum "Phoenix" (tal como "Only Time..." que  abre o disco "Asia").
/Holy War (Omega)/ A banda continua acelerada e vai para a frente de batalha com uma suíte épica sobre as guerras através dos séculos. 
/Through My Veins (Omega)/ Aqui o clima dá uma amainada e cede espaço para uma climática balada rockeira (com um belo trabalho de teclado).
/Peça Acústica #1 e Second Initial (Peça Acústica #2)/ Nesta parte do concerto, o show é do Steve Howe, com seus inspirados arroubos clássicos.  
/Don't Cry (Alpha)/ Difícil não se emocionar. Encantadora versão acústica (com violão e teclado) que realça o ímpar e agradável timbre da voz de John Wetton.  
/The Smile Has Left Your Eyes (Alpha)/ Outra atraente balada do segundo disco da banda que ganha uma versão esticada que é uma aula de um bom e  elaborado rock progressivo sinfônico.
/Open Your Eyes (Alpha)/ Outra canção progressiva da  banda que apresenta interessantes mudanças de ritmos e temas. Talvez uma das músicas mais sinfônicas da carreira do conjunto (não é exagero designá-la como uma suíte rockeira).
/Time again (Asia)/ Bem vigorosa, apresentando uma interessante e bem-vinda mistura entre rock  progressivo e hard rock.
/An Extraordinary Life (Phoenix)/ Cativante balada com uma mensagem positiva sobre a vida. Ao vivo é ainda superior que a versão de estúdio, graças ao som encorpado e cristalino da banda que permite perceber as nuances de timbres do arranjo musical.
/End of the World (Omega)/ Pode ser considerada como uma suíte progressiva do último disco, graças às variações de temas e ritmos, em sua levada intrincada. Épica em sua essência e positiva em sua mensagem de prosseguir com fé. 
/The Heat Goes on (Alpha)/ O calor aumenta ainda mais com mais uma elaborada faixa rocker (com pitadas de hard rock) da obra mais progressiva da banda. No meio da música, Carl Palmer resolve virar um polvo virtuoso em seu solo circense e estrondoso. Depois do incrível malabarismo, a banda volta com tudo para encerrar a canção.
/Sole Survivor (Asia)/ Mais uma excelente suíte sinfônica com um dos solos de teclado mais interessantes da carreira da banda. Uma das músicas mais bacanas do show.
/Heat of the Moment (Asia)/ Impressionante o fôlego desta banda veterana, pois estamos quase no final do show e ainda há espaço para muita energia em uma das faixas de mais sucesso do "Asia" (apareceu até em trilha sonora de filme). Mais uma vez os músicos mostram todo o seu virtuosismo e no final da canção há a participação da platéia no refrão. Não há melhor maneira de se encerrar um show.









//COORDENADAS//
/Imagem #1/ Arte do desenhista Roger Dean para a capa do primeiro disco da banda: "Asia" (1982).
/Imagem#2/ Frente da Camiseta oficial da "The Omega Tour".
/Imagem#3/ Arte de Roger Dean para a capa do segundo disco do grupo: "Alpha" (1983)
/Imagem#4/ Foto da banda no show em São Paulo.
/Imagem#5/ Capa de Roger Dean para o álbum "Phoenix" (2008).
/Imagem#6/ Desenho de Dean para o encarte interno do disco "Omega" (2010).
/Imagem#7/ CD ilustrado da obra "Omega".
/Imagem#8/ Arte de Dean para a capa do álbum "Astra" (1985). Deste disco, a banda não tocou nenhuma faixa (que pena, pois é um excelente álbum). "Go" que costuma ser tocada não entrou no repertório.
/Imagem#9/ Ingresso do show com o logo da banda.
/Imagem#10/ Verso da camiseta oficial da "The Omega Tour".
/Assista à versão ao vivo de "Sole Survivor" do dvd "Fantasia - Live in Tokyo (2007)"/